Não existe Rede Social grátis quando VOCÊ é o produto
- pv fraga
- 11 de set.
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Uma das maiores e mais influentes empresas da história também é fonte de polêmicas. Desde sua fundação, em 2004, o Facebook (atualmente Meta) tem gerado desconfianças, especialmente no que diz respeito à privacidade. Neste artigo, apresenta-se a trajetória de sucesso do Facebook, seu impacto na sociedade e as controvérsias em que a empresa se envolveu.
Corrida Digital
Nos meados dos anos 1990, iniciou-se uma espécie de corrida do ouro digital, em busca de destaque na nova realidade da World Wide Web. O objetivo principal era conquistar um bom domínio, ou seja, um endereço “.com”. Essa primeira geração da internet testemunhou o surgimento de inúmeras empresas nos Estados Unidos. Muitas, porém, fracassaram de forma notável. Um caso emblemático foi o da Pets.com. Criada em 1998, a empresa captou mais de US$ 80 milhões em sua abertura de capital e, no final de 2000, declarou falência. Sem um plano de negócios ou estudo de mercado, a Pets.com tornou-se um símbolo dos tempos irresponsáveis do início da internet.
Outras empresas foram adquiridas por valores exorbitantes por companhias maiores, como a Broadcast.com, comprada por US$ 5,7 bilhões pelo Yahoo em 1999. Três anos depois, o Yahoo encerrou as operações da Broadcast.com, consolidando o que é considerado um dos piores negócios da história da internet. Enquanto algumas empresas, como Amazon e eBay, se tornaram potências digitais, o cenário geral foi marcado por decepções. Entre o primeiro semestre de 2000 e o último de 2002, o índice Nasdaq, que reúne empresas de tecnologia em Nova York, registrou uma queda de 78%, caracterizando o estouro da chamada bolha das ponto com.
Emergência da Interatividade
Das cinzas dessa bolha, começaram a surgir, nos Estados Unidos, as primeiras plataformas voltadas para a participação dos usuários. O conceito, conhecido como Web 2.0, contrastava com a Web 1.0. Em um artigo publicado em 1999, a especialista em tecnologia digital Darcy DiNucci explicou: “A Web que conhecemos agora, carregada em janelas de navegadores com telas essencialmente estáticas, é apenas um embrião da Web que está por vir. Os primeiros sinais da Web 2.0 já começam a aparecer.” Na nova internet, os usuários passaram a criar e compartilhar conteúdo sem intermediários. Com isso, os blogs ganharam popularidade, e o conceito de UGC (conteúdo gerado pelo usuário) emergiu.
Surgimento das Redes Sociais
Nesse contexto, surgiu a primeira rede social da Web 2.0. Em 2002, Jonathan Abrams fundou o Friendster, um site que exibia conexões entre amigos de amigos, incentivando a formação de novas amizades online. Um ano depois, usuários do Friendster criaram o MySpace, que, assim como a rede de Abrams, atraiu milhões de usuários. Evidenciava-se o interesse, especialmente entre jovens, em usar a internet para interações sociais. Em 2004, o mercado ganhou novos competidores. O engenheiro Orkut Buyukkokten, do Google, lançou uma rede social como projeto paralelo, batizada com seu nome: Orkut. Contudo, após o sucesso inicial, essas plataformas enfrentaram declínio. O Friendster foi desativado anos depois, o MySpace perdeu relevância após ser vendido, e o Orkut, muito popular no Brasil, não se modernizou e foi encerrado pelo Google.
Nascimento do Facebook
Em 2004, na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, foi criada uma rede social que transformaria as relações humanas. Com a colaboração de quatro colegas, o estudante de psicologia e ciência da computação Mark Zuckerberg, um talentoso programador de 19 anos, lançou o The Facebook, inicialmente exclusivo para alunos de Harvard. Em três semanas, 6 mil estudantes se cadastraram. Um mês depois, a plataforma expandiu-se para outras universidades renomadas, como Columbia, Yale e Stanford. No mesmo ano, a empresa foi transferida para a região de São Francisco.
Expansão do Facebook
O império de Zuckerberg não apenas seguiu atraindo mais e mais usuários e clientes como intensificou outra estratégia de dominação do mercado: a aquisição de concorrentes. Em abril de 2012, o Facebook pagou US$ 1 bilhão pelo aplicativo de fotos Instagram, lançado menos de dois anos antes e que tinha 30 milhões de usuários. Dois anos depois, uma compra ainda mais impressionante: o WhatsApp, que tinha 400 milhões de usuários. O WhatsApp foi adquirido por US$ 19 bilhões. O Facebook, segundo informações do mercado, ainda tentou comprar, sem sucesso, outro novo aplicativo em crescimento, o Snapchat, lançado em 2011. A oferta, que teria sido feita em 2013, teria supostamente chegado a US$ 3 bilhões. Sem conseguir concretizar a aquisição, Zuckerberg resolveu incorporar ao Instagram funcionalidades que faziam do Snapchat uma ferramenta peculiar e abriu concorrência direta entre as plataformas. Em outubro de 2020, o relatório de uma comissão da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos disse que Facebook, Google, Amazon e Apple exerciam o papel de monopólio no setor. As conclusões da comissão tinham caráter consultivo e não implicavam medidas do Congresso contra as empresas, mas a possibilidade de que alguma norma viesse a forçar a divisão dessas grandes corporações não estava descartada.
Personalização de Anúncios - O Grande Salto Financeiro
A personalização de anúncios foi viabilizada pela coleta contínua de dados dos usuários, permitindo ajustes constantes no algoritmo que define o comportamento da plataforma. Isso possibilitou anúncios cada vez mais precisos, exigindo informações detalhadas sobre hábitos, preferências musicais, vestimentas e outros aspectos dos usuários. Um exemplo foi o Beacon, lançado em 2007, que conectava o Facebook a empresas parceiras. Compras realizadas nessas empresas eram publicadas no News Feed, combinando compartilhamento de atividades pessoais com publicidade. Sem autorização prévia dos usuários, o Beacon gerou um processo judicial, e a funcionalidade passou a ser opt-in, ativada apenas com consentimento. A experiência ensinou à empresa os limites de suas ações antes de provocar insatisfação pública.
Botão de Curtir e Monetização
Em 2008, o Facebook lançou o recurso de login em outros sites com a conta da plataforma. Em 2009, o botão de “curtir” foi introduzido, facilitando a expressão de preferências. Cada curtida permitia à empresa mapear os interesses dos usuários de forma espontânea, revelando gostos que, muitas vezes, os próprios usuários não percebiam. Em 2010, o botão de curtir foi expandido para toda a internet, tornando experiências online mais sociais e personalizadas. Naquele ano, a rede já contava com 400 milhões de usuários.
Dinheiro entrando aos Montes
Os números refletem o sucesso financeiro da empresa. Em 2008, o Facebook registrou prejuízo de US$ 56 milhões, com faturamento de US$ 272 milhões. Em 2009, obteve lucro de US$ 229 milhões. Em 2010, o faturamento alcançou US$ 1,97 bilhão, com lucro de US$ 606 milhões. Em 2015, o faturamento chegou a US$ 17,9 bilhões, e o lucro, a US$ 3,7 bilhões. Em 2009, a empresa era avaliada em US$ 10 bilhões. Em 2012, na estreia na Bolsa de Nova York, cada ação foi vendida a US$ 38, totalizando US$ 104 bilhões. Hoje a empresa está avaliada pela bagatela de US$ 1,89 trilhão, com cada ação custando US$750,90 na data de hoje (11/09/2025)
Os parceiros da Internet
O Facebook se inspirou no Google, contratando Sheryl Sandberg, ex-executiva de publicidade do Google, para replicar o sucesso financeiro. A pesquisadora Shoshana Zuboff, em A Era do Capitalismo de Vigilância, argumenta que o Google criou os anúncios direcionados, estabelecendo o que ela chama de capitalismo de vigilância. Esse modelo, baseado no monitoramento contínuo de buscas, compras e navegação, antecipa e influencia os desejos dos usuários, gerando lucros, mas comprometendo a privacidade.
Aquisições e Monopólio
A estratégia de dominação do mercado incluiu a aquisição de concorrentes. Em 2012, o Facebook comprou o Instagram por US$ 1 bilhão, com 30 milhões de usuários. Em 2014, adquiriu o WhatsApp por US$ 19 bilhões, com 400 milhões de usuários. Tentativas de comprar o Snapchat, por US$ 3 bilhões, falharam, levando o Facebook a incorporar funcionalidades semelhantes ao Instagram. Em 2020, um relatório da Câmara dos Representantes dos EUA acusou Facebook, Google, Amazon e Apple de práticas monopolistas, sugerindo possíveis regulações.
Uso político das ferramentas
As ferramentas da Meta, como Facebook, Instagram e WhatsApp, têm sido amplamente utilizadas para fins políticos, moldando narrativas e influenciando opiniões públicas em todo o mundo. Essas plataformas permitem que partidos, candidatos e movimentos políticos alcancem milhões de pessoas rapidamente, por meio de anúncios segmentados, postagens virais e grupos de discussão, muitas vezes explorando algoritmos que priorizam engajamento. No entanto, seu uso também levanta preocupações, como a disseminação de desinformação, manipulação de eleitores através de microtargeting e polarização social, como visto em casos como o escândalo da Cambridge Analytica. Apesar de esforços da Meta para implementar políticas de moderação e verificação de fatos, o impacto político dessas ferramentas continua sendo um tema controverso, com críticas sobre sua eficácia e neutralidade.
Não demorou para que alguns percebessem que o mesmo modelo que permitia atender e criar desejos por produtos ou serviços permitia também o incentivo a ações políticas ilegais. O escândalo da Cambridge Analytica, caso que foi revelado pelo jornal britânico The Observer que denunciou o uso dos dados de milhões de usuários do Facebook como ferramenta para propaganda política em favor do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump.
A mesma estratégia também teria sido usada por interessados na vitória do Brexit no referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia. As empresas Global Science Research e Cambridge Analytica tomaram dados de centenas de milhares de usuários do Facebook - que receberam por isso. As empresas, porém, também tiveram acesso a dados pessoais das conexões dessas pessoas na rede social, o que elevou a base de dados a cerca de 50 milhões de usuários.
A Cambridge Analytica tinha entre seus executivos Steve Bannon, assessor político de Donald Trump. Em poucos dias, Mark Zuckerberg divulgou uma declaração em que admitiu que o Facebook havia cometido "erros" e a Cambridge Analytica foi "fechada"(ainda existem empresas relacionadas à empresa-mãe do SCL Group e outras entidades que atuam no mesmo campo)
Os usuários cujos dados foram roubados foram alvos de anúncios políticos direcionados especificamente para eles, numa adoção do modelo já usado na venda de produtos para a propaganda política. O Facebook, assim como aconteceria com outras plataformas digitais, passou a ser uma ferramenta na propagação das chamadas fake news que eram divulgadas de forma deliberada para distorcer a realidade. O escândalo provocou o fechamento da Cambridge Analytica e o caso destacou-se pela preocupação com as fake news nas plataformas digitais.
O WhatsApp também foi usado para propaganda política, por meio de “disparos” de mensagens em grupos fechados. Reportagens da BBC News revelaram que números de telefone, obtidos de listas comerciais ou do próprio Facebook, eram usados para adicionar pessoas a grupos sem consentimento. Medidas como limitar encaminhamentos foram implementadas, mas o problema ainda persiste. Os donos das redes sociais prometeram eliminar as brechas de seus sistemas que permitiam a invasão de privacidade indevida e o abuso por grupos políticos.
Medidas específicas foram tomadas nos Estados Unidos e no Brasil, enquanto mudanças nas plataformas - como um limite menor de pessoas para quem uma mensagem poderia ser repassada no WhatsApp - foram implementadas.
Mark Zuckerberg e outros dirigentes de empresas de mídias sociais e tecnologia, como Google e Twitter, foram sucessivamente convocados a depor no Congresso americano devido a problemas no setor de tecnologia, incluindo invasão indevida de privacidade e uso político dissimulado.
Envolvimento político do Vale do Silício
Este é um ponto crucial: quando o Vale do Silício parou de apoiar Biden e passou a apoiar Trump? Tudo começou após uma reunião entre a gestão Biden-Harris e várias figuras influentes. Inicialmente, o Vale do Silício era majoritariamente progressista e apoiava Biden. A única exceção era Peter Thiel, que sempre apoiou Elon Musk.
Curiosamente, o próprio Elon Musk era democrata, assim como Trump, que só todos eles migraram para o Partido Republicano. Muita gente não sabe, mas Trump era próximo de Bill e Hillary Clinton antes de sua guinada política. Quase todos esses nomes migraram para o Partido Republicano recentemente. A única exceção é Robert Prevels, o "Leon X", que já era filiado ao partido desde 2012.
A Filosofia do Vale do Silício
O Vale do Silício sempre se apresentou como progressista, mas há quem discorde. Um livro fundamental para entender essa discussão é Who Owns the Future? (Quem Domina o Futuro?), de Jaron Lanier.
Lanier é uma figura fascinante: um gênio da computação, músico e um dos pioneiros da realidade virtual (ele inclusive cunhou o termo virtual reality). Ex-engenheiro-chefe da Microsoft, ele é um dos poucos insiders do Vale do Silício que critica abertamente o setor.
Ele também escreveu Ten Arguments for Deleting Your Social Media Accounts (Dez Razões para Você Deletar suas Redes Sociais), onde argumenta que, se você não paga por um serviço, você é o produto — devido à mineração de dados e ao big data.
No livro Who Owns the Future?, Lanier descreve a ideologia do Vale do Silício não como um simples progressismo, mas como um "maoísmo digital". Segundo ele, essa visão prega um coletivismo radical, onde tudo deve ser gratuito, mas com um sistema oculto de monetização por meio da venda de dados.
Revolução Tecnológica e a Analogia com a Revolução Chinesa
Lanier compara essa mentalidade à de Mao Tsé-Tung, não a Marx. Enquanto Marx acreditava que o comunismo surgiria naturalmente do capitalismo avançado (daí sua ênfase na Inglaterra industrializada), as revoluções russa e chinesa tiveram raízes rurais, não urbanas. Da mesma forma, o Vale do Silício criou um ecossistema onde serviços como WhatsApp, Instagram, YouTube e Facebook são "gratuitos", mas na verdade lucram com a exploração de dados dos usuários.
A Tese de Whitney Webb: Vigilância em Massa
Porém, há outra perspectiva. A jornalista Whitney Webb, autora dos livros One Nation Under Blackmail (em dois volumes), argumenta que o Vale do Silício não é movido por uma ideologia maoísta, mas por um projeto de vigilância em massa.
Em seu artigo The Military Origins of Facebook, Webb afirma que as redes sociais surgiram após o 11 de setembro com um propósito claro: espionar a população sob o pretexto de combater o terrorismo.
Após os ataques, o governo americano criou o Patriot Act, que enfraqueceu direitos fundamentais como o devido processo legal. Paralelamente, surgiu o projeto Total Information Awareness (TIA), que visava monitorar todos os cidadãos.
Quando o Congresso barrou o TIA em 3 de fevereiro de 2003, o Facebook foi lançado no dia seguinte (4 de fevereiro). Coincidência? Webb acredita que não. Ela argumenta que o Facebook, assim como o Google, teve financiamento de agências como a CIA e a DARPA, transferindo a vigilância estatal para o setor privado.
O Método Roy Cohn e a Chantagem
Webb também traça paralelos entre figuras como Roy Cohn (mentor de Trump) e Jeffrey Epstein. Ambos usavam chantagem: Cohn filmava figuras poderosas em festas para depois extorqui-las, assim como Epstein fazia em sua ilha.
Trump e Epstein foram amigos até o início dos anos 2000, quando romperam; democratas acusam o ex-presidente de mentir, enquanto republicanos veem politização no caso, que também traz mensagens de figuras como Bill Clinton e Peter Mandelson, além de ligações ao príncipe Andrew, acusado de abuso sexual. A divulgação reflete pressões crescentes por transparência nas investigações sobre Epstein e sua rede.
Whitney Webb sugere que as redes sociais são a versão moderna desse esquema: coletam dados para controle e manipulação, não por acaso, mas por projeto.
Terceirização da Vigilância
Webb explica em seus livros que, quando o Congresso começou a limitar a CIA, a agência terceirizou suas operações para empresas privadas. Assim como a Lockheed Martin tem seu Skunk Works (setor de projetos secretos), a CIA passou a financiar startups como a Palantir (fundada em 2003, mesmo ano do Facebook) para manter a vigilância fora do escrutínio público. Tudo isso tem referencias no livro! E este foi um plano muito fora da caixa, pois em vez de o governo utilizar meios para ir atrás dos dados das pessoas, elas simplesmente entregam isso voluntariamente!
Tecnologia ou Controle?
Enquanto Lanier vê no Vale do Silício um "maoísmo digital" que prega gratuidade mas lucra com dados, Webb enxerga um projeto orquestrado de vigilância e controle. O que parece claro é que, seja por ideologia ou por interesses ocultos, o poder dessas plataformas só cresce. E o pior: muitas vezes, progressistas e conservadores acham que estão em lados opostos, quando, na verdade, podem estar sendo manipulados pelo mesmo sistema, ou eles mesmos unindo para tal manobra através da tecnologia.
Dicas de Leitura:
Who Owns the Future? (Jaron Lanier)
Ten Arguments for Deleting Your Social Media Accounts (Jaron Lanier)
One Nation Under Blackmail (Whitney Webb)
The Military Origins of Facebook (Whitney Webb)
E aí, o que vocês acham? O Vale do Silício é progressista, vigilante ou ambos? Comentem aí abaixo!
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